segunda-feira, novembro 07, 2011

A ver vamos quero acreditar

-PV - Carta aberta aos benfiquistas impacientes

Caro Benfiquista

Eu sei que, à semelhança da maioria dos benfiquistas, ferves em pouca água. E, como a maioria dos benfiquistas, és ansioso e depressivo. É natural: os mais velhos, como eu, habituámos-mos a ganhar, a ser um exemplo de desportivismo e a ganhar - pela simples razão de que éramos superiores. Em tudo. Dentro e fora do campo. Mas, quase trinta anos de dirigentes incompetentes e da muita batota que tomou conta do futebol, foram o bastante para nos fazer andar com a cabeça baixa, a viver de ilusões e de promessas, de raros sucessos e de muita frustração. Por isso, os mais novos como tu e como os meus filhos e netos, perdem a confiança com muita facilidade.

Mas gostava que registasses o que te digo: O Benfica ganhou o campeonato, ontem, em Braga. O Porto vai acabar em quarto. O Sporting em terceiro. O Braga em segundo. Talvez não seja exactamente esta ordem, mas acho que não me engano muito. O Benfica já jogou com dois candidatos ao título, fora de casa, e não perdeu. Aliás, esta época ainda não perdeu! Mesmo com apagões (cirúrgicos?), não perdeu. Não te esqueças que tinhamos o jogo dominado quando começou aquela farsa. E foi preciso que o Pedro Proença inventasse aquele penalti para eles conseguirem chegar à baliza! (Aliás, é sempre assim, os árbitros portistas favorecem o Porto, os benfiquistas têm que mostrar que são isentos!).

Já jogámos com dois dos três rivais. E ambos no campo dos adversários, os mesmos que, nos anos anteriores, nos roubaram pontos, em jogos que foram verdadeiras batalhas campais, dentro e fora do estádio. E estamos em primeiro, ex-aequo com o Porto, que só jogou connosco. O Braga também. E o Sporting não jogou com nenhum dos três. Acrescento que já se começa a perceber que o Sporting não tem um futebol consistente e que o Domingos não é o treinador que muitos se precipitaram a pôr no pódio.

O problema do Benfica é que nunca soube respeitar os treinadores portugueses. É curioso que uma equipa que, desde o Cosme Damião, durante anos, fez gala em só ter jogadores portugueses, sempre tenha tido treinadores estrangeiros. E, agora que praticamente só joga com estrangeiros, teve dois dos três melhores treinadores portugueses e não os soube estimar como mereciam: primeiro foi o Fernando Santos, que fez milagres com uma equipa medíocre e sem banco, e agora o Jesus (o outro é, obviamente, o Mourinho, goste-se ou não do futebol das equipas que ele treina). Foram os melhores treinadores que o Benfica teve desde, vá lá, o primeiro Erickson!

O Jesus é um treinador de topo, convence-te disso, mas um treinador que está a fazer a sua habituação ao sucesso e ao convívio com um grande clube e uma grande equipa. Mas o que ele sabe de bola não cabe em dez enciclopédias e em vinte manuais. O modo como ele percebe as qualidades dos jogadores e os potencia é de um fora de série: pensa no David Luís, no Di Maria, no Fábio Coentrão, agora no Gaetan, e por aí fora, tudo jogadores que ele valorizou de um ano para o outro. O que se passa, este ano, é que ele aprendeu a jogar cínico (Manchester, Porto, Braga), o que tira nota artística às exibições, mas garante resultados. Este ano, além de ganhar o campeonato, vamos longe em todas as provas. E olha que, em relação ao Benfica eu nunca me enganei (Artur Jorge, Vale e Azevedo, Fernando Santos, Camacho, Quique, agora o Jesus). Regista isso e mais esta: muitos benfiquistas, no ano passado, sem tentar perceber o que nos levou àquele mau começo e péssimo final (mas lembra-te que, no meio da época, o Benfica praticou um futebol de luxo), pediram a cabeça do Jesus, esquecendo o que ele fizera em 2009/10! E posso dizer-te com orgulho que fui um dos que sempre o defendeu contra ventos e marés; e, sobretudo, contra os que pediam a sua cabeça.

Só acrescento uma coisa: o Benfica, este ano, só tem um problema: não tem substitutos para os centrais, e não tem um lateral esquerdo! A equipa fica coxa, sobretudo com o modelo de jogo do Jesus: só ataca pela direira, e fica nas mãos (aliás, nos pés) do Maxi Pereira, que é um jogador esforçado (que o Jesus fez crescer muito), mas que não é o Coentrão. E o Emerson também é um jogador esforçado, mas que não sabe subir com bola e que, por muito trabalho que se faça, dificilmente nos resolve esse problema. O que significa que, provavelmente, temos que ir ao mercado em Janeiro fazer este ajustamento, a menos que o Jesus, neste três meses que tem pela frente, com a matéria prima que tem à disposição, fabrique um lateral esquerdo, como fez com o Fàbio Coentrão.

Mas isso são pequenos problemas, ao lado da grande equipa que o Jesus está novamente a fabricar (e não te esqueças que nos falta o Enzo Peres, que seria um titular indiscutível).

Mas, caro benfiquista, acredita em mim: este ano, se não houver batota por fora, vamos ser campeões. E, daqui para a frente, se estivermos unidos e mantivermos a confiança na equipa e no seu treinador, podemos estar no começo de uma nova era de Glória, de liderança e de vitórias.

Um abraço

A-PV (in MasterGroove)

quinta-feira, novembro 03, 2011

DESABAFO

Na fila do supermercado, o caixa diz uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigos do ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- Não havia essa mania verde no meu tempo.
O empregado respondeu:
- Esse é exactamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente.
Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada uso e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo.
Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com ambiente.
Até então, as fraldas de bebés eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias.
Naquela época só tínhamos apenas uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha um ecrã do tamanho de um lenço, não um ecrã do tamanho de um estádio, que depois será descartado como???
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas eléctricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.
Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina para cortar a relva, utilizava-se uma tesoura para relva que exigia músculos. O exercício era extraordinário e não precisava ir a um ginásio usar máquinas que também funcionam a electricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente.
Bebíamos directamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora enchem os oceanos.
Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos "descartáveis" e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma grande mania verde naquela época.
Naqueles dias as pessoas apanhavam o carro eléctrico ou o autocarro e os meninos íam nas suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, não dá até vontade de rir que a actual geração fale tanto em ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época???