sexta-feira, outubro 22, 2010

Crise: Deputado esfomeado reivindica jantar na cantina da AR

O deputado do PS Ricardo Gonçalves gostava de ter a cantina da AR aberta
ao jantar. Isto porque 3700€/mês que aufere "não dão para tudo". Fiquei com
um "aperto no coração" ao ler isto.
Tiago Mesquita (www.expresso.pt)
9:00 Terça feira, 5 de Outubro de 2010
Pensava que nada me podia surpreender na política, mas eis que um deputado me
acorda para a triste realidade: Portugal. O absurdo é o limite. O horizonte da estupidez
ganha novos desígnios e contornos todo o santo dia. Ao deputado Ricardo Rodrigues dos
gravadores junta-se agora o deputado Ricardo Gonçalves das refeições.
Se o primeiro meteu gravadores no bolso. Este afirma que o que lhe põem no bolso não
chega para tudo, mesmo que seja um valor a rondar os 3700€/ mês. Uma miséria. "Se
abrissem a cantina da Assembleia da República à noite, eu ia lá jantar. Eu e muitos outros
deputados da província. Quase não temos dinheiro para comer" Correio da Manhã (vou
fazer uma pausa para ir buscar uns kleenex...)
O corte de 5% nos salários irá obrigá-lo, como "deputado da província", a apertar o cinto e
consequentemente o estômago, levando-o a sugerir com ironia mas com seriedade (!?) a
abertura da cantina da AR para poder jantar. Uma espécie de Sopa dos Pobres mas sem
pobres e sem vergonha. Só com políticos, descaramento e sopa.
"Tenho 60 euros de ajudas de custos por dia. Temos de pagar viagens, alojamento e
comer fora. Acha que dá para tudo? Não dá" Valerá a pena acrescentar alguma coisa?
Não me parece. Só dizer que as almôndegas que comi ao jantar não se vão aguentar no
estômago durante muito tempo depois de ter feito copy/paste desta declaração
Mas continuando a dar voz ao Sr. Deputado: "Estamos todos a apertar o cinto, e os
deputados são de longe os mais atingidos na carteira". Pois é, coitadinhos, andam todos a
pão e água. Alguns são meninos para largar os bifes do Gambrinus.
Bem sabemos que os grandes sacrificados do novo pacote de austeridade do Governo
vão ser os senhores deputados. Ninguém tinha dúvidas quanto a isto. E ajuda a explicar o
"aperto de coração" que o Primeiro-Ministro sentiu ao ter de tomar estas "medidas duras".
Sabia perfeitamente que ao fazê-lo estava a alterar os hábitos alimentares do Sr.
Deputado Ricardo Gonçalves, o que é lamentável.
Que tal um regresso à província com o ordenado mínimo e um pacote senhas do
Macdonalds? Ser deputado não é o serviço militar obrigatório. Pela parte que me toca de
cidadão preocupado está dispensado. Não o quero ver passar necessidades.
Há quem sobreviva com pensões de valor equivalente a 4 dias de ajudas de custo do
senhor deputado. Quem ganha o ordenado mínimo está habituado a privações, paciência.
Agora com 3700€ por mês e 60€/dia de ajudas compreendo que seja mais difícil saber
onde cortar. Podíamos começar por cortar na pouca-vergonha. Mas isso seria pedir
demais.

Texto de Tiago Mesquita do

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